História de superação, saga, caso único no mundo: a narrativa sobre as últimas sete décadas de existência dos Suábios do Danúbio em Entre Rios pode ser descrita de diversas formas. Em todas elas, contudo, sobressairá a capacidade de inspirar, surpreender e emocionar.
Com a responsabilidade e a satisfação de manter essa história viva e pulsante, criou-se a Fundação Cultural Suábio-Brasileira (FCSB) em 7 de agosto de 2001, na Colônia Vitória, Distrito de Entre Rios (Guarapuava – PR).
Dezenas de tradições e costumes, o dialeto suábio, o idioma alemão: tudo se mantém fielmente preservado, com o objetivo de repassar esse amplo contexto cultural às futuras gerações, além de torná-lo conhecido a visitantes, parceiros e clientes.
Grupos culturais compostos por integrantes descendentes de suábios, de todas as faixas etárias, dão dinamicidade e cores comunitárias ao estilo de vida trazido pelos pioneiros, desde o Leste Europeu até o interior do Paraná.
Promover à comunidade atividades de difusão das tradições e costumes suábios integrados à cultura brasileira, proporcionando o desenvolvimento humano por meio da prática e da participação de atividades culturais.
Ser uma instituição reconhecida pela excelência na valorização e preservação da memória suábia integrada à cultura brasileira e pela produção, difusão e democratização cultural e educativa.
As raízes dos Suábios do Danúbio se espalham por um complexo cultural, que inclui um teatro, uma rádio comunitária, espaços culturais multifuncionais, um centro de jovens e o Museu Histórico de Entre Rios.
Raízes vastas e profundas, que reforçam o objetivo sociocultural de uma Fundação que surgiu para preservar, mas também para difundir e integrar a cultura suábia ao alcance de todos os membros da comunidade.
À primeira vista, a arquitetura rebuscada, os traços germânicos e a grandiosidade de toda a estrutura do Centro Cultural Mathias Leh despertam, no mínimo, a curiosidade e o interesse. Prestes a completar 30 anos, a casa da Fundação Cultural Suábio Brasileira (FCSB), da Rádio Unicentro Entre Rios 99,7 FM e do Museu Histórico de Entre Rios recebe anualmente milhares de pessoas de todo o planeta. Apresentações artísticas, eventos empresariais, visitas culturais, além de aulas de música, canto, dança e teatro preenchem com vida os 4.563 metros quadrados construídos do edifício.
Aos olhos do público, está exposto especialmente o amplo e confortável auditório, bem como o moderno e interativo Museu Histórico. Mas há muito mais a conhecer. Por isso, convidamos a curiosa leitora e o interessado leitor a descobrir os detalhes do Centro Cultural Mathias Leh, ao som de bisbilhoteiras notas musicais. Aguce seus ouvidos e que comece o nosso tour.
Imaginemos que a flauta mágica de Mozart seja um instrumento de vida própria e que ela adentrass'e a porta principal de vidro tocando a valsa “Danúbio Azul” (*), de Johann Strauss. As notas iniciais da obra, “RE, FA#, LA” ecoariam primeiramente pelo saguão, no qual se encontra a secretaria da Fundação Cultural. O ambiente dá acesso a duas salas do departamento administrativo da FCSB, incluindo a coordenação. A sequência “FA# FA# RE RE” encontraria, à direita, os ouvidos de uma ampla sala de reuniões, mas poderia ser abafada por outro núcleo de produção sonora: a Rádio Unicentro Entre Rios 99,7 FM.'
Certamente, a frase “re re fa# la la SOL SOL DO# DO#” se sentiria confortabilíssima na acústica dos dois estúdios da rádio, um de gravação e outro de transmissão “ao vivo”. É ali que a sequência “do# do# mi si si SOL SOL MI MI” teria a sensação de voltar às margens do Danúbio, ao ouvir a gravação dos programas em língua alemã, transmitidos diariamente em horário nobre pela manhã e à noite. Por outro lado, “do# do# mi si si FA# FA# RE RE” poderiam se perder na impressionante discoteca, que abriga mais de 9.000 mil álbuns, entre LPs, CDs e DVDs.
Ao retornar ao saguão principal, a flauta mágica entoa a frase “re re fa# la RE LA LA FA# FA#”, enquanto balança no ar e sobe as escadas que dão acesso às salas dos trajes típicos, figurinos e diversos materiais para apresentações. Ao retornar, “re re fa# la RE SI SI SOL SOL” decide dar a volta por trás do palco do auditório, com uma sequência de camarins e cômodos para a guarda de equipamentos de som.
Ao final da primeira estrofe, “mi mi sol si si sol# la FA# RE fa# fa# mi si la re” estão morrendo de vontade de subir ao palco, mas a curiosidade os leva a descer ao subsolo, no qual se encontra o fosso do mesmo palco, um diferencial para apresentações de teatro e música.
Por falar em música, as primeiras notas do refrão, “DO SI SI LA LA” se deparam com a forte concorrência de outras canções tocadas pelos alunos e professores de música ao longo de quatro salas de aula. Com pressa para recuperar o protagonismo, a flauta mágica agiliza a navegação entoando “LA SOL# SOL# LA LA”, enquanto avança em direção a uma ampla sala de espelhos, utilizada, por exemplo, durante as aulas de dança e canto.
Enquanto a frase anterior rodopia sobre o piso de madeira e reverbera pelas paredes revestidas com tecido, a sequência “RE RE MI RE” encontra mais quatro salas de aula dos professores de música e canto. Cabe às notas “RE RE LA SOL” a tarefa de finalizar o refrão subterrâneo, avançando por uma lavanderia e pelo arquivo técnico do Museu Histórico de Entre Rios.
Aliás, a obra-prima composta por Johann Strauss em meados do século 19 interessou-se muitíssimo pela história secular dos Suábios do Danúbio, cuja saga teve início no século anterior. Por isso, “DO3 SI SI LA LA” resolveram fazer um tour pela moderna estrutura, inaugurada em janeiro de 2012, durante as festividades dos 60 anos de Entre Rios. Após passar pela recepção, uma sala de reuniões e a vitrine de souvenires, a flauta encontra o mundo mágico dos suábios.
Com a mesma ansiedade de um ônibus cheio de estudantes do ensino fundamental, “A# LA LA SOL FA# MI DO la MI MI MI RE sol” seguem a linha do tempo trilíngue, museu adentro. Os fatos descritos e os objetos observados, além da interatividade destinada ao público, soam como música aos ouvidos das notas. Ainda mais, quando param para apreciar a exposição fotográfica, exposta em uma sala ampla com paredes intercambiáveis.
Ao retornarem ao saguão principal, “sol fa sol fa sol MI” perceberam que se atrasariam facilmente na biblioteca de 20.000 obras em língua alemã e decidiram seguir, dando de frente com um dos ambientes mais charmosos do Centro Cultural: o Foyer. A frase “RE sol mi sol mi sol RE” já estava sentada em um dos bancos de canto tipicamente germânicos, enquanto “DO sol fa sol fa sol MI” fazia graça no bar, destinado a servir os mais ilustres convidados de grandes eventos.
De lá, as notas anteriores apreciam a famosa frase final “RE sol do re mi sol fa mi mi mi re do”. Cada nota encontrava-se confortavelmente sentada numa das quase 600 cadeiras retráteis de um dos maiores anfiteatros da região, sendo que na última repetição do refrão de Danúbio Azul, a flauta mágica subiu ao mezanino do auditório, a fim de causar maior impacto ao público imaginário.
Ao deixar o Centro Cultural Mathias Leh, a flauta mágica sentia-se encantada com a grandiosidade daquela que é a casa de preservação e difusão das tradições dos Suábios do Danúbio no Brasil.
(*) As notas formam a cifra melódica para flauta doce. Tente tocar a obra, seguindo a sequência do texto!
A história dos suábios do Danúbio e de sua identidade cultural está interligada com a história da Alemanha, da Áustria e de outros países do sudeste da Europa, como Hungria, Romênia e ex-Iugoslávia (hoje Croácia e Sérvia), num período que, no total, abrange desde o século XVII até meados do século XX. De fato, trata-se de uma história bastante extensa e complexa, já que aquele mesmo período histórico representa a própria formação de vários dos países europeus atuais, com guerras, fusões, invasões, imigrações e a redefinição constante de fronteiras.
Os Suábios do Danúbio são, de maneira geral, povos de etnia e cultura germânicas que têm sua origem principal no sudoeste e no oeste do território que hoje corresponde à Alemanha. É importante notar que a denominação “suábio” se refere diretamente aos germânicos que habitavam a “Suábia”, uma região que atualmente está inserida no estado alemão de Baden-Württemberg (sudoeste da Alemanha). Já a denominação “suábio do Danúbio” abrange todos os povos germânicos (não só os originários da Suábia) que, principalmente no século 18, imigraram de áreas do sudoeste e do oeste do então Reino Alemão (Deutsches Reich) para o sudeste da Europa (hoje Croácia, Sérvia, Romênia e Hungria, entre outros locais) – a região havia sido reconquistada em guerras contra os otomanos. O principal período de imigração dos suábios do Danúbio ocorreu a partir de 1720. Naquela época, os imperadores austríacos (da linhagem dos Habsburgos) incentivaram principalmente agricultores a realizarem o povoamento dos territórios conquistados.
Para aqueles locais, além dos suábios propriamente ditos, imigraram pessoas das regiões germânicas da Francônia (Franken), Bavária (Bayern), Alsácia-Lothringen (Elsass-Lothringen), Pfalz, Hessen, Boêmia (Böhmen), Silésia (Schlesien), Vestifália (Westfalen), Suíça (Schweiz) e da própria Áustria. Os “suábios do Danúbio” fixaram-se em dezenas e dezenas de povoamentos, de maior ou menor porte, em locais como “Turquia Suábia”, Batschka, Banat, Sirmia, Slavônia e Sathmar. Ali praticaram a agricultura e mantiveram seus dialetos e suas tradições. Aquelas regiões pertenceram ao Império Áustro-Húngaro (1867 a 1918). Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, ocorreu um fato peculiar: o Império Áustro-Húngaro se dissolveu e as regiões habitadas pelos suábios do Danúbio, antes sob um mesmo governo, se viram divididas agora pelas fronteiras de vários países, como Hungria, Romênia e Iugoslávia (hoje Croácia e Sérvia).
Durante e depois da Segunda Guerra, muitos suábios deixaram o sudeste da Europa, dirigindo-se à Áustria, onde viveram durante 7 anos em abrigos para refugiados. A instituição filantrópica Ajuda Suíça para a Europa (Schweizer Europahilfe) organizou um projeto para viabilizar uma alternativa de vida para um grupo de suábios do Danúbio que se encontrava na Áustria: um total de 500 famílias, 2.446 pessoas, se inscreveram na iniciativa, que visava a criação de uma cooperativa agrícola no Brasil como um caminho para um novo futuro. Assim nasceu a iniciativa que levaria à fundação da Cooperativa Agrária e à colonização dos campos de Entre Rios, localidade que é um distrito do município de Guarapuava (PR).
A Agrária foi fundada em solo brasileiro. A cerimônia de fundação da Cooperativa ocorreu no dia 5 de maio de 1951, no Hotel Central, em Guarapuava. A Agrária, com apoio financeiro da Ajuda Suíça para a Europa, adquiriu, em Entre Rios, uma área inicial de cerca de 22 mil hectares. Os suábios que participaram do projeto de imigração para Entre Rios tornavam-se cooperados e, com o fruto de seu trabalho, pagavam à Cooperativa pelas terras recebidas. Em Entre Rios, a disposição dos suábios para enfrentar as muitas dificuldades dos primeiros anos, marcados por perdas de safras, falta de infraestrutura e por dificuldades de idioma, ao lado de seu enorme esforço de superação de obstáculos, escreveram uma das mais marcantes páginas da história da imigração de etnia alemã no Brasil.
O distrito de Entre Rios tornou-se a única comunidade rural de suábios do Danúbio existente na atualidade em moldes semelhantes aos que existiam no sudeste da Europa. Em outros países os suábios estão dispersos, por vezes, em grandes centros urbanos.
Hoje atentos à necessidade de participar de um mundo multicultural, os suábios do Danúbio de Entre Rios e seus descendentes, ao lado do orgulho e da gratidão de ter no Brasil sua nova pátria, guardam o exemplo de seus antepassados e persistem para vencer os novos desafios trazidos pela globalização: a profunda e rápida modernização da agricultura em tempos de mercados sem fronteiras e a preservação de sua identidade cultural.
Muitos suábios do Danúbio imigraram da Europa para países como Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália. Outros, após deixar o sudeste da Europa, permaneceram na Áustria e na Alemanha, formando em solo europeu um grupo muito unido por laços culturais e históricos, mantendo associações culturais, apoiando revistas suábias e promovendo eventos.
Conselho Curador |
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Presidente: Cristian Abt |
Conselheira: Carolina Remlinger |
Conselheira: Isabela Brandtner |
Conselheira: Marlene Heiser Sander |
Conselheira: Clara Milla Fassbinder |
Conselho Fiscal |
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Conselheiro: Manfred Michael Majowski |
Conselheira: Patricia Diana Schwarz |
Conselheiro: Julio Hülse |
Diretoria |
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Diretor Presidente: Edmund Kreuscher Gumpl |
Diretor Financeiro: Adam Stemmer |
Diretora Cultural: Viviane Schüssler |